segunda-feira, 25 de julho de 2011

                                     Capoeira é Prosa e Verso

"No meu tempo não existia academia, quando menino, com uma turma de garotos ia treinar Capoeira escondido dos pais. Os treinos eram secretos, realizávamos em quintais. Naquela época existiam caramanchão do mestre Waldemar era aberto com um cercadinho onde o público ficava. E o barracão, um barraco de "tauba", todo fechado os bancos grandes assim eram chamados de tamburete, rústicos e pesados que nem criança conseguia erguer."




Mestre Espinho Remoso

Em 1960, Zé - como era chamado- conheceu os filhos de Elisio Maximiliano Ferreira, o mestre Espinho Remoso. Ele ra puxador de carro de boi, carregava cana cortada. Na década de 30 veio pro bairro de Bom Retiro em Salvador Bahia, onde deu seus primeiros passos na Capoeira.


Capoeiragem na Lama


Em 1958, na Copa do Mundo, Zé já estava com nove anos e em 1960 o mestre Espinho Remoso faleceu. Só ficaram seus filhos, um deles com o nome de Virgílio, hoje mestre Virgílio.

Zé com os filhos do mestre, começou a treinar Capoeira: " Jogava na lama nos matadores de boi." Mais tarde, foi apresentado ao filho mais velho do mestre Espinho Remoso - Diogo - que era estivador, falecido em 20/07/2011. Os filhos do mestre disseram a Diogo para ele ensinar Zé:




Ele foi devagar e sua mãe aceitou, comprou um pandeirinho de couro de jibóia, e fez um "berimbau de lata" e uma roda com mais de dez meninos. A roda era em um chão batido com folha de bananeira na frente da casa de dona Joana. ela dizia: "Lá vem o mestre da zuada!"
As meninas naquele tempo se vestiam com vestidos quadriculados, o cabelo penteado e já tinham os seus preferidos na roda de capoeira, "um tipo paquera!" Era o único lazer no dia de domingo na rua da Jaqueira do Carneiro: "De dia matava boi e nos feriados Capoeira."
Em 1966 os meninos subiram pra formar a Capoeira de Virgílo, no mesmo ano fundaram a academia junto com Diogo, Raimundo Dandi, Ubirajara, Carlinhos e Ivo, era uma turma de garotos. Permaneceram na academia de mestre Virgílo até 1972, quando Zé desceu para formar a sua própria academia.

A Viola e o Lenço


No matadouro aonde trabalhava, havia um "caboco" com o nome de Zé do Lenço.

Era violeiro, tocava samba de roda ia pras festas no largo com sua viola e o lenço no pescoço pra não molhar o paletó de suor. E na Capoeira existiam dois lideres: Um era Cecílo e o outro Zé, dois mestres de Capoeira. Cecílo foi apelidado de mestre Goma, e no meio de risadas e palmas.
Quando chegou a hora do Zé disseram: " ele não parece com o violeiro Zé do lenço sambando?" A parir daí, Mestre Zé do Lenço.


Texto: Fernando Sepe

sexta-feira, 27 de maio de 2011

                                         Mestre Moraes



Palestra realizada no dia 16/04/11, no segundo dia do evento Zum Zum Zum. Mestre Moraes aborda vários assuntos, mas atribui musicalidade da Capoeira como tema principal.

terça-feira, 3 de maio de 2011



                                         l Zum Zum Zum 2011

Aconteceu nos dias 15,16e 17 de abril, na cidade de São Paulo, o l Zum Zum Zum. Organizado por Marcelo, Japa, Bruno, M. Parafuso e Tizil. O evento teve como convidados Mestres Ananias e Moraes, e contou com a presença de dezenas de capoeiristas de São Paulo e de outros estados.


M. Parafuso, Marcelo, Bruno, M. Ananias, Tizil, M. Moraes , Rafael e Japa.


Com o intuíto de promover um encontro focado nas tradições e fundamentos da Capoeira (rítmo, musicalidade e jogo) amigos capoeiristas de alguns grupos uniram forças para realizar um evento que retratasse o cenário da capoeira paulistana. Quem compareceu ao evento pode participar, além das rodas e dos treinos, das palestras proferidas pelo mestre Moraes. Nelas o mestre abordou questões à ancestralidade tema central do evento e também à musicalidade, sua importância e aspectos fundamentais dentro do jogo da Capoeira. Além de enfatizar e colocar em questão o papel político da Capoeira e do capoeirista na contemporaneidade.

Mestres Convidados e Homenageados



MESTRE ANANIAS e MESTRE MORAES


Mestre Ananias; Nascido na cidade de São Felix, Bahia em 1924. Período de descriminação e repressão policial ao negro e todo seu legado cultural, religioso e suas relações comerciais e humanas. Imerso no cenário de formação cultural de nosso país, mestre Ananias assume a Capoeira o Candomblé e o Samba de Roda como guia, verdade e vida. Em São Felix conta o seu convívio com mestre Juvencio que tocava berimbau ainda com cipó. Entre alguns mestres estavam os senhores Pastinha, Noronha, Nagé, Caiçara, Onça Preta, Cobrinha Verde, Canjiquinha de quem mais tarde recebeu o diploma de mestre entre outros. Porém no antigo Corta Braço, bairro de Liberdade, que seu Ananias ficou encantado e foi se achegando até fazer parte de um grupo rítmico de alta patente. A roda de mestre Waldemar, um dos maiores ritmistas cantadores e comandantes de roda de todos os tempos.

"Enquanto uns dizem que não há referência de Capoeira Angola em São Paulo, na verdade quando nem nascidos eram, eu já estava na roda da praça da República guerreando!"

Ananias Ferreira, teve participações de filmes nacionais como o Pagador de Promessas, Brasil do nosso Brasil, produzido por Xangô, Balbina de Iansã, Ravina entre outros.
Foi na sua chegada a São Paulo em 1953, que o mestre se fez responsável, junto a seus conterrâneos pela estruturação e da famosa roda da Praça da República. Movimento social importante que assume o papel tradicional da Capoeira, o de inclusão e resistência ao preconceito social e racial. Mestre Ananias, relatou durante o evento, que antigamente não existia Capoeira em São Paulo era apenas seu irmãozinho, o mestre Zé de Freitas.



Mestre Moraes; Durante toda infância na Ilha de Maré, em Salvador os ombros de Moraes guiaram o pai cego, vítima de um acidente de trabalho, para aonde quisesse ir, já os ensinamentos do pai continuam o ensinando. "Meu pai foi o primeiro grande mestre, o varão, o mago, o gênio da família. Ele dizia que não precisava enxergar a vida, porque a sentia". Assim como o mestre Moraes diz querer ser referência aos seus filhos. Uma referência que ensinou a Capoeira como luta, como forma de vida. A Capoeira Angola é um instrumento que tenho pra educar meus filhos, e orientá-los para a discussão da autenticidade deles. A Capoeira Angola é a representatividade do homen negro. Enquanto negro eu tenho que dar continuidade a essa luta. Eu adotei a Capoeira como minha respiração, ela está pra mim, como a água está para o peixe, e eu não permito que ninguém polua a água da qual eu preciso sobreviver. Meu radicalismo vem dai, da minha necessidade de proteger meu habitat. Qualquer pessoa que queira compartilhar desse ambiente preservando-o será bem vindo!"



"O espírito da Capoeira entra em você, não é você que entra no espírito da Capoeira"


Alienar a religiosidade ao universo da Capoeira foi um dos recursos ultilizados para que ela fosse mais facilmente aceita. Para mestre Moraes, porém, a religiosidade dentro da Capoeira é um elemento mais acentuado do que todas as suas vertentes.


"Quando vê um mais sabido, baixa o dorso em reverência"


A Palavra do mestre
Mestre Moraes, durante os três dias do evento pode conversar com todos em um diálogo franco e aberto. Diversos temas foram discutidos e seria impossível nesse curto espaço tratar todos eles. Porém poderíamos destacar três aspectos como pontos centrais das palestras por m. Moraes, vejamos:

Ancestralidade:
Tema central do encontro, mestre Moraes explicou o que entende por ancestralidade enfatizando sua importância como fundamento, como a própria raiz da capoeiragem. Entre os muitos comentários interessantes, o mestre destacou a importância da Capoeira não ficar parada no tempo, se colocando de forma efetiva como instância cultural afro brasileira na sociedade contemporânea. Porém criticou inúmeras vezes os mais diversos excessos e contra - sensos que muitas vezes acompanham essas tentativas de modernização, reconhecimento e globalização da Capoeira , ressaltou a necessidade do capoeirista de ser crítico frente as processos que descaracterizam como cultura e arte, como estilo e filosofia de vida. Nesse sentido nos lembrou como o conhecimento firme de sua própria raiz, ancestralidade, assim como vivência com os velhos mestres que representam simbologicamente a própria figura ancestral do universo da Capoeira, são pontos essenciais para que o capoeirista possa se manter lúcido e conectado com a verdadeira essência da capoeiragem e dessa forma possa agir no mundo contemporâneo sem descaracterizá-la, pelo contrário, a difundido e preservando como consciência e alto nível.
 

Ritmo, Muscicalidade e Jogo: Comentários preciosos também foram tecidos sobre os grandes fundamentos da Capoeira. em relação à musicalidade m. Moraes enfatizou clara analogia entre a bateria da roda de Capoeira com a percussão dos atabaques nas religiões de matriz africana. Tal como nelas, a música da roda de Capoeira tem a função de convocar à própria ancestralidade do jogo, criar as condições necessárias para que o espírito da Capoeira possa se manifestar naquele momento através do jogadores. Mestre Moraes comentou brevemente sobre a importante noção do transe e como é o rítmo, tal como no candomblé, o grande desencadeador dele. Fez ainda sérias ressalvas a forma como o rítmo, hoje em dia, é deixado de lado por grande parte dos capoeiristas. Por fim, durante a aula ministrada, chamou muita atenção á forma como o angoleiro deve buscar e expressar na roda. Ponto central foi a sua incisiva ênfase na elegância, na expressão do corpo, no estilo que traz a cada gesto, a negaça, mandinga e o mistério.

Educação e resistência: Em sua rica crítica ao poder estabelecido e a forma como a Capoeira continua a ser marginalizada com o poder público como legítima expressão da cultura brasileira, m. Moraes se mostrou extremamente lúcido ao falar que apenas conhecendo o poder, apenas tendo não somente o corpo como arma, mas sim, principalmente a mente , como capoeirista poderia agir nas brechas e nas fraquezas dos processos de dominação, buscando reais conquistas por suas demandas de reconhecimento. Como ele mesmo disse, o capoeirista não é capoeirista apenas na roda. Pelo contrário seu grande desafio começa fora dela no mundo vivido. Como transformar de forma positiva o universo da Capoeira, lutando pela sua preservação e reconhecimento, honrando a tradição e seus guardiões legítimos, os velhos mestres? "-Estudando"; Foi a resposta simples e direta do mestre.


Conclusão

Proporcionar eventos como este, é ter consciência, valorizando o aprendizado que não é instantâneo, e sim, demanda tempo, através do amadurecimento e crescimento individual. Respeitando o processo evolutivo e principalmente, valorizando as limitações de cada um, podemos gerar uma verdadeira compreensão do que cada um busca em sua própria vida.



"Um dos desafios mais importantes como ser humano e capoeirista" (Marcelo)

terça-feira, 15 de março de 2011

                                                Ancestralidade

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quarta-feira, 2 de março de 2011

                                                                MAESTRIA



Ritmo, vem do grego Rhytmos e designa aquilo que flui, que se move, movimento regulado. O ritmo está inserido em tudo na vida.
Desde os batimentos do coração, até na simples ação de caminhar, o ser humano é dependente do ritmo. Na alfabetização, é uma habilidade de extrema importância, pois dá à pessoa a noção de duração e sucessão, no que diz respeito a percepção dos sons no tempo.
O ritmo musical é um fenômeno sonoro e está em geral relacionado a uma cadência. Uma qualidade primordial na música é perceber e medir o tempo, sentindo, formando e compondo o tempo para transmitir um sentimento.
Na capoeira Angola, pode-se observar claramente esse aspecto do sentimento intrínseco ao ritmo, quando se canta uma
ladainha por exemplo. Quando a ladainha é um lamento as batidas do berimbau possuem um tempo mais longo, mais fluido e harmonioso. Quando a ladainha conta uma história de luta por exemplo, a cada verso se fazem repiques mais fortes, com mais energia expressando uma acão. Quando se canta com malícia os repiques variam mais, transmitindo uma impressão do inesperado, como um golpe surpresa, quando o jogador finge uma ação e executa outra, confundindo o parceiro de jogo.
Visamos aqui uma superficial prévia do que se entende por ritmo, um tema de importância vital e complexidade imensurável, cada vez mais negligenciado nas rodas de Capoeira.
A música é alma da capoeira e o jogo é o corpo, ritmo, é antes de tudo, coordenação motora, atenção e estudo!

Osasco - SP
26/02/11